A continuaçãodo tão esperado protesto da NBA envolvendo o hino nacional tem sidobastante inofensiva até agora. Os jogadores e equipes optaram por “focar em soluções” em vez de gestos. A forma do discurso foi um pouco decepcionante. Nãoparece haver qualquer sentido no protesto e muitas das soluções propostas paraos homicídios de policias contra as minorias desarmadas dependem de falsasequivalências e mudanças de assunto. Na verdade, as manifestações mais poderosas até agora não vieram de jogadores, mas de dois cantores nacionais durante uma apresentação em outubro.
Os funcionários da equipe Philadelphia 76ers queriam evitar até o mínimo de controvérsia relacionada aos incidentes durante o jogo contra o Oklahoma City Thunder na noite de quarta-feira. A artista Sevyn Streeter deveriacantar o hino nacional antes da partida, mas nem chegou até a quadra, poisestava usando uma camisa com os dizeres “nós importamos”. Ela e sua maquiadora Tatiana Ward explicaram o que aconteceu nas redes sociais (via PBT e Billy Penn):
Eu devia cantar o hino nacional no jogo dos @sixers Vs @okcthunder, mas, minutos antes, os @sixers disseram que eu não poderia entrar na quadraporque estava usando uma camisa com os dizeres “nós importamos”.
Streetercontinuou sua história em uma entrevistapara a Associated Press:
“Dois minutos antes de eu ir para a quadra, a organização me disse que eu não poderia usar minha camisetaenquanto cantava o hino nacional”, falou ela por telefone.“Nunca recebi qualquer tipo de código de vestimenta.Nunca me pediram para mostrar meuguarda-roupa”.
Uma dançarina do 76ers, identificada apenas como Jemila, tomou o lugar de Streeterdurante o hino. Streeter também deveria cantar no intervalo da partida, mas em vez disso, foi para o tribunal. Como observado por Michael Lee, Desiigner foi vaiado notribunal por motivos não relacionados.
Os Sixers não negaram o ocorrido. Eles emitiram uma nota através de Dan Feldman:
“A organização do Philadelphia76ers incentiva ações significativas para mudanças sociais.Nós usamos nossos jogos para unir as pessoas, gerar confiançaentre elas e fortalecer nossas comunidades.Enquanto evitamos ações meramente simbólicas, continuamos a usar nossaplataforma para impactar positivamente nossa comunidade”.
Os Sixersobviamente não gostaram do tom de exceção na declaração “nós importamos”,derivada do slog “Black Lives Matter”. Mas a mensagem de Streeter era clara e aequipe a silenciou.
A franquia não tomou partido. “Nós importamos” é uma declaração de divisão, mas apenas nosentido de que chama atenção para os maus tratos que as minorias precisamenfrentar todos os dias. A Filadélfia tem uma longa e dolorosa história deracismo, que até hoje causa segregação. Impedir que Streeter faça umadeclaração política relativamente suave não gera confiança nem fortalece acomunidade, mas apenas solidifica a cultura do preconceito que já existe. É umadecisão tomada para o conforto dos fãs, que não querem se envolver comproblemas muito reais.
Momentoscomo esse ilustram a separação dos Sixers e da NBA entre protestos e açõessignificativas. As ações geradas pelos protestos de Colin Kaepernick na NFLsugerem que esse tipo de manifestação é importante para gerar mudanças. Issonão deveria ser eclipsado pelos trabalhos da NBA junto à comunidade (Kaepernickfaz isso bastante também). Muitos americanos ainda não sabem ou não queremouvir falar das experiências das minorias com a política e outras instituições.Se nós realmente aceitarmos a mensagem de Kaepernick com o coração, ela nãoserá considerada ofensiva. Ela deve ser entendida como parte do processo.
Como Dave Zirin escreveu para o The Nation em setembro,parece que a NBA só está interessada em lidar com as questões raciais se puderevitar quaisquer controvérsias no processo. Isso não significa que o que elestêm feito seja ruim. Os jogadores são muito envolvidos com programas sociaisque podem fazer os atos simbólicos parecerem um pouco vazios. Infelizmente,agir como se os protestos fossem desnecessários permite que eles discriminem ospontos de vista que eles consideram desconfortáveis. Mas ações como essasprovavelmente inspirarão manifestações mais fortes ainda do que as que a NBA orienta os jogadores a não fazerem.
Eric Freeman