El cementerio de aviones, de Dimitri Lee

Fotos são interpretações de mundo. As imagens “El cementerio de aviones”, de Dimitri Lee, são retratos do tempo. Os senhores do ar que não se movimentam mais evocam pessoas que, sem ter futuro pela frente, lhes resta apenas lembrar o passado, que muitas vezes imaginam mais glorioso do que realmente foi ou que desmerecem por não ter sido o que desejavam.

Os aparelhos retratados não estão mortos. Expostos à intempérie, continuam se transformando. Permanecem vivos e guardam, em sua fuselagem, nas marcas que o tempo trouxe e nos grafites que as novas gerações lhes tatuaram, muito mais que lembranças. A mutação se dá na maneira como se relacionam com o todo e vice-versa.

Cada olhar que lançamos sobre eles os faz revigorar – e a morte não se consolida. Talvez estivessem quase desaparecendo da memória de muitos, mas as fotografias os trazem de volta a alimentar os nossos sonhos. E, quando lembramos deles, eles ganham mais um sopro de vida. Não podem mais atravessar o céu, mas voam muito mais pelo nosso imaginário.

Do espaço em que estão fisicamente, em El Alto, periferia de La Paz, Bolívia, decolam para novas jornadas. As fotografias de Dimitri Lee proporcionam que atinjam o alto patamar de propiciar uma paz interior que alguns chamam de eternidade; outros, de Nirvana; outros, de arte; havendo ainda os que não a denominam. Apenas a sentem.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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