Um caminho não é necessariamente uma jornada com começo, meio e fim. Acima de tudo, é um movimento de um local para outro. A pintura de Rossana Jardim traz uma representação visual em que ele surge como um tobogã ou um intestino, pleno de curvas. A metáfora se aplica nos dois casos, pois existe uma dinâmica de transformação.
Nessa alegoria da existência, a presença da criança e do pequeno caminhão trazem evocações. Ela está a perseguir o objeto, que alude ao brinquedo, mas também ao trabalho. Existem ambiguidades do viver que podem ser colocadas nessa fronteira entre o lúdico que alimenta a alma e o tóxico que destrói a criança interior.
Há ainda o fundo que evoca pele de onça e algum tipo de rastro ou pegada. Talvez o que mais a existência deixe em cada um seja justamente a percepção contínua de marcas. Escorregar ou buscar algo não deixa de ser a mesma coisa sob outra faceta. Por esse prisma, constitui um constante metamorfosear-se ao lidar com objetos e com o tempo.
O conjunto gera reflexão sobre como as curvas são mais importantes que os ângulos retos em uma perspectiva de entender o existir como mudança permanente. Cada segundo, se visto como um ato de escorregar, pode ser prazeroso e divertido, mas também, de alguma maneira, assustador. Afinal, a onça que fascina também devora…
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.