A Cênica estreia em São José do Rio Preto seu novo espetáculo adulto concebido para o palco, BOI MATERIAL, resultado da parceria artística da companhia rio-pretense com o encenador e dramaturgo convidado Pedro Kosovski, fundador d’Aquela Cia de Teatro (Rio de Janeiro). O artista assina direção e dramaturgia, essa em coautoria com Fagner Rodrigues. A montagem faz duas sessões no teatro do Sesc Rio Preto, dias 11 e 12, terça e quarta-feira, às 21 horas.
BOI MATERIAL se passa em uma feira de exposição, onde um grupo de artistas é contratado para entreter o espetáculo e se percebe como parte da complexa engrenagem que reproduz um jogo de poder, cujos movimentos incidem diretamente contra as existências vivas do planeta. Durante um leilão de gado, que ironicamente perpassa a iconografia do boi na história da pintura brasileira, o grupo subverte o jogo, ora assumindo o papel dos donos da terra, ora especulando sobre um levante.
O elenco conta com Andrea Capelli, Beta Cunha, Cássia Heleno, Christina Martins, Deivison Miranda, Fabiano Amigucci, Geovanna Leite, Glauco Garcia, Simone Moerdaui e Vanessa Palmieri. Na direção musical e composições inéditas, Felipe Storino. A direção vocal é de Everton Gennari e a direção de movimento, de Mayk Santos.
O ponto de partida para BOI MATERIAL foi a investigação sobre o paradoxal e complexo signo do boi. De um lado, ele representa o poder fundado na lógica patriarcal, machista, autoritária, predatória e exploradora que se impõe sobre as diversas formas de existência, consideradas meros recursos dos quais “se aproveita até o berro”. De outro, representa uma potência coletiva, criativa e transgressora, que pode ser observada no modo como a cultura popular, as comunidades menorizadas e a arte invertem e subvertem as normas vigentes para continuarem existindo e pulsando como vida.
“A figura do boi também cria um horizonte de visibilidade e debate sobre o lugar dos artistas no interior, também inscrito nessas ambivalências. A distância dos grandes centros de cultura os aparta sob alguns aspectos, especialmente pela manutenção de estereótipos que fazem subestimar suas potencialidades. Contudo, ajuntamentos artísticos interioranos seguem resistindo e desorganizando tais estereótipos por meio da sua arte, de seus modos de produção e da criação e fortalecimento de redes de articulação e afeto”, considera a equipe artística de forma conjunta.
A cenografia (por Lidia Kosovski) e os figurinos (Fabiano Amigucci) iniciais contribuem para a sobreposição de outra camada de significação do espaço e do grupo de artistas ao apresentarem uma visualidade que remete a um frigorífico – mais uma estação desse sistema, que denota assepsia e ordem, onde artistas são artistas, são trabalhadores, são os próprios bois.
A partir do momento em que elementos do grupo assumem o papel de figuras que alegorizam os donos da terra e, por outro lado, figuras míticas de poder, surge mais uma camada de atuação, também expressa nas transparências presentes em seus figurinos estilo agro, inspiradas nos cortes de carne bovina e que evidenciam partes dos corpos dos atuantes.
A dramaturgia não possui um caráter linear, entretanto se equilibra sobre um fio cujo percurso está enunciado nos corpos, nos figurinos e nas transformações que acontecem com e sobre o espaço, cujo sentido é a imaginação de um mundo possível.
Outras ações
Em maio, diversas ações foram realizadas por meio do projeto. Uma delas, no dia 28, foi a apresentação do espetáculo no Teatro Municipal de Jales. Antes, a companhia realizou um ensaio aberto também no Sesc Rio Preto. A ação começou com uma fala de Kosovski e demais integrantes da equipe artística sobre o momento atual do processo de criação.
No mesmo mês, o Sesc também foi palco do workshop “Dramaturgias do movimento: direção e preparação corporal para o teatro”, com Mayk Santos. Em abril, por sua vez, a Cênica promoveu um compartilhamento de processo na sede da Companha Azul Celeste, mostrando trechos da montagem, seguido de bate-papo.
Parceria
Essa é a segunda parceria da companhia com Kosovski. Em julho de 2019, a convite da Embaixada da França no Brasil/Instituto Francês do Brasil e do FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, a Cênica foi dirigida por Pedro Kosovski na leitura dramática de J’ai bien fait? (Fiz bem?), de Pauline Sales, traduzido por ele para o português. Na ocasião, surgiu o desejo mútuo por um novo encontro artístico mais amplo e profundo. Deste desejo, somado ao desejo da Cênica de seguir investigando seu “sertão” e ao de Kosovski de se debruçar sobre o “interior”, nasceu BOI MATERIAL.
O projeto é viabilizado pelo Edital ProAC Nº 01/2022 – Teatro / Produção de Espetáculo Inédito, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo.
Sobre a Cênica
Coletivo teatral de repertório fundado em 2007 por Fagner Rodrigues, a Cênica conta atualmente com 23 integrantes e 11 espetáculos em circulação, concebidos para palco, rua, espaços alternativos e ambiente virtual. Ao longo de sua trajetória, suas pesquisas têm sido pautadas no teatro popular, na dramaturgia autoral, na música ao vivo enquanto elemento dramatúrgico e na ocupação de ruas e espaços não convencionais. Para além de suas produções artísticas, a companhia mantém, em sua sede, o projeto Território Cênico, voltado à pesquisa, formação e difusão artística-cultural, e realiza a Mostra Cênica Resistências.
Sobre Pedro Kosovski
Dramaturgo, diretor teatral e professor de artes cênicas da PUC-RIO e do Teatro O Tablado. Funda, em 2005, a Aquela Cia de Teatro, núcleo de criação e pesquisa da linguagem teatral. Concentra seus esforços artísticos em uma dramaturgia que está no trânsito entre os conceitos de memória coletiva e fabulação. Suas obras foram apresentadas nos principais festivais do Brasil, em Portugal, Colômbia e está prevista, em 2022, na França. Recebeu indicações e foi vencedor dos principais prêmios de artes cênicas do Brasil como Shell, APCA, Cesgranrio, Questão de Crítica, APTR, Aplauso Brasil, Zilka Salaberry. Três de suas peças que formam a “Trilogia Carioca” (“Cara de Cavalo”, “Caranguejo Overdrive”, “Guanabara Canibal”) estão publicadas pela editora Cobogó.
Sinopse
A peça se passa em uma feira de exposição, quando um grupo de artistas é contratado para entreter o espetáculo. Durante a Expô esses mesmos artistas percebem fazer parte da complexa engrenagem, um jogo de poder, cujos movimentos incidem diretamente contra as existências vivas do planeta. Em meio ao leilão de gado, que ironicamente perpassa a iconografia do boi na história da pintura brasileira, o grupo subverte o jogo ora assumindo o papel dos donos da Terra, ora especulando sobre um levante.
Ficha técnica
Dramaturgia e direção: Pedro Kosovski
Dramaturgia e assistência de direção: Fagner Rodrigues
Elenco: Andrea Capelli, Beta Cunha, Cássia Heleno, Christina Martins, Deivison Miranda, Fabiano Amigucci, Geovanna Leite, Glauco Garcia, Simone Moerdaui e Vanessa Palmieri
Direção musical e composições inéditas: Felipe Storino
Direção vocal: Everton Gennari
Direção de movimento: Mayk Santos
Figurinos: Fabiano Amigucci
Assistente de figurinos: Deivison Miranda
Costura: Lab Veste e Vergínia Santana
Perucaria: Gaia do Brasil
Cenografia: Lidia Kosovski
Assistentes de cenografia: Marcela Amorelli e Pedro Rocha
Execução de cenografia: Galpão 6Centos Cenografia e Amarildo De Paula
Reprodução da obra “O Minotauro ou Mánhene (O Veneno do Mundo)”, de Denilson Baniwa: Deivison Miranda
Concepção audiovisual: Elissa Pompônio, Vinicius Dall’ Acqua, Robo.Art
Operação de som: Larissa Macena
Iluminação: Luis Fernando Lopes
Assessoria de imprensa: Graziela Delalibera
Interpretação de Libras: Bárbara Moura
Fotos: Higor Arco
Vivência em capoeira angola: Camila Signorini e Paula Castro
Vivência artística: Fazenda Santa Lourdes
Coordenação e Produção: Cênica
Apoio: Sesc Rio Preto
Projeto realizado através do ProAC Editais, Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Governo do Estado de São Paulo
Serviço:
BOI MATERIAL
Com Cênica. Direção: Pedro Kosovski
Dias 11 e 12/6, terça e quarta, 21h.
Teatro do Sesc Rio Preto. R$ 12 (credencial plena), R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira). 90 minutos. 16 anos.