A questão indígena nunca pode sair de pauta. Uma maneira artística de realizar perguntas e propor reflexões sobre o tema ocorre na pesquisa visual da artista plástica Dani Sandrini.
Durante nove meses, período de uma gestação, ela e sua equipe estiveram em contato com índios no contexto urbano da capital paulista. Esse diálogo foi registrado por meio de fotografias que incluem o cotidiano, o trabalho e as manifestações religiosas dessas pessoas.
A efemeridade que ameaça toda vida, mas que se amplia nessa população, é metaforizada pela forma de impressão escolhida. São utilizados como suporte papéis sensibilizados com o pigmento extraído do fruto jenipapo (usado também em pinturas corporais) ou diretamente em folhas de plantas.
O uso da luz solar evidencia ainda mais a seleção de um processo artesanal que valoriza a delicadeza e a potência da natureza de tudo oferecer ao ser humano. O fascínio dessas técnicas é que elas são, por sua própria característica, fadadas ao lento desaparecimento. Com o recebimento da luz de qualquer ambiente, irão se alterando até desaparecer. O resultado, então, vai na contramão da civilização branca ocidental que busca permanentemente a eternidade.
Expressão visual do projeto “Darueira”, contemplado no 1° Edital de apoio à Criação e Exposição Fotográfica proposto pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em 2018, a ação da artista obriga a pensar sobre como os povos indígenas vêm sofrendo alterações e mutações desde o seu contato com o homem dito civilizado em 1500.
O ponto mais significativo reside em assumir o fim de tudo com grandeza e tranquilidade. Ao ver indígenas que interagem com o contexto paulistano em diversas situações, desde o dia a dia ao ritualístico, é impossível não se pensar qual é o futuro desses descendentes dos primeiros habitantes de um país que parece cada vez mais esquecer de seu passado para construir um futuro incerto.
O progressivo apagamento e desaparecimento de cada imagem nesse contexto funciona como um alerta, um sussurro que se transforma em grito no momento em que tomamos a progressiva consciência de que cada imagem ali retratada é uma bandeira fincada no espaço, uma voz que o tempo há de levar, mas que tem a doce impermanência daquilo que permanece impresso em nossa alma.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.