O ministro Teori Zavascki e mais quatro pessoas morreram na queda de um avião no litoral do Rio de Janeiro, na tarde desta quinta-feira (19). O Ministério Público, a Polícia Federal e um órgão de investigação da Aeronáutica apuram as causas do acidente.
A Infraero informou que a aeronave prefixo PR-SOM, modelo Hawker Beechcraft King Air C90, decolou às 13h01 do Campo de Marte, na capital paulista. O avião é de pequeno porte e tem capacidade para oito pessoas. A queda ocorreu por volta das 13h45, quando o bimotor estava a 2 km de distância da pista do aeroporto da cidade fluminense.
Veja perguntas e respostas sobre o acidente:
Quem são as vítimas?
– Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal
– Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, empresário
– Osmar Rodrigues, piloto do avião
– Maira Lidiane Panas Helatczuk, massoterapeuta de Filgueiras
– Maria Ilda Panas, mãe de Maira
As identidades das duas mulheres foram confirmadas pelo Hotel Emiliano, o proprietário do avião, nesta sexta-feira (20).
Como é feito o resgate dos corpos e recuperação da aeronave?
Um helicóptero da Aeronáutica e mergulhadores do Corpo de Bombeiros buscam os corpos de duas vítimas. A operação também deve realizar o içamento da aeronave nesta sexta. Não chove nesta manhã em Paraty, mas o tempo permanece nublado, o que pode dificultar as buscas.
Quais as circunstâncias da queda?
Ainda não está totalmente claro o que ocorreu. Chovia bastante no momento do acidente, segundo imagens de radar. O mau tempo é um fator que pode comprometer a aproximação do aeroporto de Paraty, em que as aterrissagens só podem acontecer em condição visual.
A engenheira Rachel Schneider, que estava num barco de turismo, disse que viu o avião bater com uma das asas na água. “Nesse momento que a gente viu o avião passando, ele estava fazendo uma curva e uma curva muito acentuada”, afirmou Rachel ao Bom Dia Rio (veja o vídeo abaixo). “Até falamos: nossa, está esquisito, esse avião está muito baixo. […] Não explodiu, só fez uma curva muito acentuada e a asa, foi a asa que bateu [no mar].”
Outra testemunha disse que não ouviu nenhum barulho na hora da queda. “Só senti um cheiro forte de gasolina. Logo que o avião caiu, já estavam fazendo o resgate, e uma pessoa que estava dentro do avião estava viva pedindo socorro. As pessoas tentaram socorrer, mas não deu tempo”, lamentou Rosália Ramos Lima, dona de uma pousada na Ilha Rasa, que fica perto do local do acidente.
Quais as características do aeroporto?
O aeroporto de Paraty é rudimentar quando comparado com aeroportos convencionais. Há no lugar, basicamente, uma pista de pouso. O aeroporto não tem torre de controle nem equipamentos que permitam pousos por instrumentos, condição em que os aparelhos orientam o piloto sobre qual altitude, inclinação e velocidade ter nos momentos anteriores à aterrisagem. Tampouco há carta de navegação, algo obrigatório em aeroportos com auxílio de instrumentos.
Qual era a situação da aeronave?
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que a documentação da aeronave estava regular. O certificado era válido até abril de 2022, e inspeção da manutenção (anual) estava válida até abril de 2017.
A aeronave tinha caixa-preta?
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), ainda não se sabe. Aviões particulares de pequeno porte, como King Air, não são obrigados a ter esse tipo de equipamento. Eles ajudariam na investigação e permitiriam saber o comportamento do avião e o que os pilotos conversaram nos momentos anteriores à queda.
Quem era o dono do avião?
A aeronave estava registrada no nome da empresa Emiliano Empreendimentos e Participações Hoteleira, que pertence a Carlos Alberto Fernandes Filgueiras. O Grupo Emiliano tem uma rede de hotéis de luxo, com uma unidade em São Paulo e outra no Rio. Filgueiras era amigo do ministro Teori Zavascki.
O que dizem especialistas em aviação?
Gustavo Cunha Mello, especialista em gerenciamento de risco, disse ao Bom Dia Brasil que é possível que o piloto tenha sofrido desorientação espacial, fenômeno no qual o comandante perde a noção de onde está a superfície (veja o vídeo abaixo).
“Claro que todo acidente tem uma série de fatores contribuintes, mas o principal, que deve estar no radar do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos], é a perda de orientação espacial para que ele possa ter tocado a ponta da asa no oceano.”
O que se sabe sobre o piloto?
O piloto Osmar Rodrigues era “muito cuidadoso” e chegou a dar palestra para outros pilotos sobre como fazer a rota São Paulo-Paraty, segundo informações do Bom Dia Brasil. Rodrigues tinha 56 anos.
No ano passado, Rodrigues foi palestrante no Campo de Marte, em São Paulo, em um fórum para pilotos de aviação executiva. Fernando Guimarães, dono do Hangar Tag, disse que o piloto conhecido pelos amigos como “Mazinho” foi escolhido por ser o mais experiente para falar sobre os desafios de um voo para Paraty.
“Ele falou pra gente foi isso: ‘O segredo é vocês não abusarem, saibam dizer não pro patrão de vocês, a visibilidade tá ruim, arremeta, não vá. Se tem chuva, desvie…’”, relatou Guimarães.
Quem conduzirá as investigações?
A apuração das razões técnicas que contribuíram para o acidente, como a influência do mau tempo, da aeronave e do piloto, ficam a cargo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que esteve no local da queda na quinta-feira.
Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) irão apurar se houve eventual intenção deliberada de derrubar o avião.
O MPF de Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro, abriu inquérito a respeito. A responsável é a procuradora da República Cristina Nascimento de Melo.
Na PF, o inquérito está sob responsabilidade do delegado chefe da corporação em Angra, Adriano Antonio Soares. O policial aguarda a chegada em Angra de um grupo da PF de Brasília, especializado em acidentes aéreos.