Por Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Brasília
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Revcom, em Santana, no Amapá, que abriga quase 300 animais silvestres resgatados, tenta se recuperar dos prejuízos decorrentes do apagão que atingiu 13 das 16 cidades do estado, após incêndio em uma subestação de energia na capital, Macapá.
Com a falta de energia elétrica, mais de cem quilos de proteína animal e quase 200 quilos de vegetais processados que estavam armazenados foram perdidos. Segundo Paulo Amorim, pediatra hoje aposentado, que cria e administra a reserva desde 1998, o volume de carne perdido seria suficiente para alimentar os animais carnívoros por mais de uma semana. Já as frutas e legumes durariam um pouco menos.
“Tivemos um prejuízo terrível. Depois, ainda tivemos que enfrentar problema do dia a dia. Passamos a fazer compras diárias, pois não havia como guardar os alimentos. E é preciso muito alimento, o que representa gastar entre R$ 300 e R$ 400 por dia”, disse Amorim à Agência Brasil.
“Só uma anta come cerca de 30 quilos de comida por dia. Um gavião-real come o equivalente à metade de galinha por dia. O gato mourisco [ou jaguarundi] consome 800 gramas de carne por dia, e por aí vai”, acrescentou. Ele disse que há tempos se tornou um “pedinte profissional” para conseguir o dinheiro necessário à manutenção do local.
Idealmente, a unidade de conservação exigiria gastos da ordem de R$ 35 mil mensais. No entanto, segundo Amorim, o local funciona com déficit de cerca de R$ 16 mil mensais.
Com a visitação pública suspensa desde março deste ano, devido à pandemia da covid-19, a situação se agravou, e os gestores passaram a contar apenas com o dinheiro repassado pela prefeitura de Santana, por meio de um convênio, e com os patrocínios de duas empresas privadas, além das contribuições esporádicas de apoiadores do projeto. A equipe, que já contou com 12 colaboradores, hoje está reduzida a apenas quatro funcionários.
Para fazer frente aos gastos inesperados causados pelo apagão, a reserva conta com a colaboração financeira de pessoas que se mobilizaram pelas redes sociais.
“Fizemos uma vaquinha [arrecadação de recursos] local; mas para fazer as compras tivemos que retirar os recursos que estavam reservados para os encargos sociais. Felizmente, a ONG Razões para Acreditar, fez uma nova vaquinha e conseguimos recursos.”
Até a tarde de hoje, a proposta de financiamento coletivo já tinha recebido R$ 41,7 mil dos R$ 50 mil estabelecidos como meta. Uma conta foi aberta no Banco do Brasil para receber doações.
“Graças à união dos colaboradores e a uma doação de quase 200 quilos de alimentos que a prefeitura de Macapá nos fez, não chegou a faltar comida para os bichos. Quem sofreu foram os empregados, cujos salários nós acabamos atrasando. E nós, que tivemos que nos virar”, afirmou.
“Desde ontem não falta luz, mas, ainda assim, continuamos em regime de alerta. E ainda estamos reparando os problemas decorrentes da oscilação [de energia], como o sistema de vigilância”, revelou Amorim, explicando que a área precisa de monitoramento constante.
“Há sempre o risco de entrarem na área para capturar e matar animais. Já mataram a cacetadas um veado que chegou a ser considerado o menor da espécie no Brasil. Também mataram três dos seis porcos-do-mato, e tentaram matar a anta em duas ocasiões. Então, como se não bastassem todas as outras dificuldades, ainda temos que lidar com essa barra pesada”, disse Amorim.
Edição: Maria Claudia