A poética presente nas pipas caracteriza o trabalho do artista. É um universo que tem um lado lúdico, que remete à infância, mas também trata, com delicadeza e contundência, da prática criminosa do uso de cerol, mistura cortante feita geralmente de cola de sapateiro com vidro moído que é aplicada nas linhas para cortar as das outras pipas no ar.
Essas conotações são evidenciadas na materialidade dos trabalhos do artista, composições coloridas que remetem, pelo srpay, à arte de rua, e reciclam e ressignificam desde pedaços de bambu a vidro, num resultado que tem no movimento construtivista uma referência, principalmente pela geometrização das formas. Há ainda memórias afetivas com o prazer de brincar com as pipas.
Plasticamente sintetizadas, apontam para sonhos individuais e coletivos a alçar voo. Também podem ter a sua liberdade de imaginar interrompida das mais diversas maneiras e a qualquer instante, deixando apenas as cicatrizes.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.