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Um dos mais impressionantes documentos do Holocausto, descoberto nos anos 1980, passou por anos de restauração e agora pode ser lido quase na íntegra.
O relato foi escrito secretamente por Marcel Nadjari no final de 1944 e colocado dentro de uma garrafa térmica envolta numa bolsa de couro. Ele a enterrou perto do Crematório 3 do campo de Auschwitz, libertado no ano seguinte.
“Todos aqui sofremos coisas que a mente humana não pode imaginar”, afirma Nadjari no documento. As informações são do Deutsche Welle.
O prisioneiro grego fazia parte de um grupo de trabalho chamado Sonderkommando – eles eram obrigados a preparar os assassinatos em massa dos demais presos, saquear seus pertences após a gaseificação e transportar os corpos para os fornos.
Nadjari descreve como os detentos do campo eram enfiados “como sardinhas” na câmara.
“Após meia hora, abríamos as portas e começávamos o nosso trabalho”, conta. Ele era responsável por levar os cadáveres aos fornos de incineração, onde “um ser humano acaba sendo reduzido a cerca de 640 gramas de cinzas”.
Nadjari era um comerciante grego e foi deportado para Auschwitz.
“Se você ler sobre as coisas que fizemos, vai dizer: ‘Como alguém pôde fazer isso, queimar seus companheiros judeus?’”, escreveu Nadjari. “Foi o que eu também disse no início, e no que pensei várias vezes”.
Após a guerra, Nadjari ele voltou à Grécia e em 1951 foi com o filho e a esposa para os Estados Unidos, onde morreu em 1971, aos 54 anos de idade. Aparentemente, ele nunca contou a ninguém sobre os escritos enterrados.
Neles, mais de uma vez, Nadjari escreveu que ficava tão devastado que pensava em se juntar aos prisioneiros nas câmaras de gás, mas era impedido pela perspectiva de vingança.
“Não estou triste por morrer”, escreve Nadjari, “mas fico triste por não poder me vingar como eu gostaria.”