Esquema de disparos no WhatsApp teria usado CPFs de idosos

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Esquema teria utilizado nomes e CPFs de idosos para registrar os chips utilizados nos disparos no WhatsApp (Pixabay)
O esquema de distribuição de mensagens em massa no WhatsApp durante as eleições, denunciado pelo jornal Folha de São Paulo em outubro, teria utilizado nomes e CPFs de idosos para registrar os chips utilizados nos disparos, de acordo com uma nova reportagem do jornal.

As informações foram obtidas por meio de um processo da Justiça do Trabalho movido por Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma das companhias envolvidas no esquema. “Cerca de 99% do que fazíamos eram campanhas políticas, e 1% era para a Jequiti”, diz. No processo, Nascimento alega que não era registrado, não tinha direito a almoço e nem ao pagamento de horas extras e recebia cerca de R$ 1,5 mil por mês.

Ele conta que as fraudes nos CPFs eram realizadas por três empresas: Yacows, Deep Marketing e Kiplix. As três pertencem a Lindolfo Alves Neto e Flávia Alves. Veja como era o esquema:

1. Cadastros
O ex-funcionário entregou ao jornal uma relação com mais de 10 mil nomes de cidadãos nascidos entre 1932 e 1953. Segundo ele, a lista era distribuída aos operadores para o cadastro de chips no nome dessas pessoas.

Nascimento também teria enviado fotos que mostram computadores ligados a celulares e chips, a maioria deles da Claro. Os donos das companhias, os irmãos Lindolfo e Flávia, também são sócios da Red Telecom, uma empresa autorizada da Claro. Os “laranjas”, como se pode imaginar, não sabiam de nada.

A lei brasileira obriga que o dono de um chip vincule a ele um número de CPF, para que possa utilizá-lo normalmente.

2. Envios
Por se tratar de um grande número de mensagens enviadas, era comum que o WhatsApp, detectando a prática de SPAM, bloqueasse os chips, o que justifica a necessidade de ter novos números. Nascimento conta que o esquema de disparo funcionou ininterruptamente durante as eleições.

Hans conta que ele e vários de seus colegas trabalharam mais de 16 horas seguidas durante a campanha. “Muita gente dormia lá, na escada, sofá, hall. Descansava um pouco, ia lá e fazia mais um turno”, declara.

Trabalho extra
Trocas de mensagens anexadas ao processo pelo ex-funcionário mostram os supervisores indicando trabalhos aos fins de semana e sem descanso. “Daqui até o primeiro turno das eleições teremos trabalho nos finais de semana. E extra de madrugada liberado”, indica uma mensagem, atribuída a Lindolfo Alves. Outra mensagem diz que os profissionais “que folgariam na segunda também devem vir”. Ela teria sido enviada por Flávia Alves.

Flávia teria dito em outra mensagem que a demanda teria crescido tanto que a empresa, que teria 200 funcionários, teria que mudar de prédio para comportar todos os clientes.

O que dizem os envolvidos
Questionada, a empresa Yacows declarou que não há evidências de atos ilícitos no processo movido por Nascimento. “A Yacows reafirma que não foi contratada em nenhum momento pela equipe da campanha do candidato Jair Bolsonaro para distribuir conteúdo eleitoral e pode dizer o mesmo das demais empresas que possuem sócios em comum, citadas pelas reportagens da Folha”, declara. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou que a empresa faz parte de do polo passivo de ação cautelar e que não se pronuncia em casos sob judice.

A Agência Nacional de Telecomunicação, Anatel, declarou que “casos de clonagem de linhas e utilização indevida de dados pessoais podem configurar eventual fraude junto às prestadoras, que devem, dentre suas obrigações, adotar medidas de combate a essas práticas”.

A Claro afirmou que não detectou nenhum comportamento “atípico” em suas vendas e que está à disposição da Justiça.

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