Obras de arte são interpretações visuais de mundo. Pinturas constituem materialidades expressivas perante qualquer tipo de assunto. Isso é feito pelo uso de recursos técnicos como o gesto das pinceladas e a maneira de utilizar as cores para obter os efeitos esperados.
Esta pintura trata daqueles que pela sua coragem combateram os portugueses, morrendo anonimamente no campo de batalha. A temática é a Batalha do Jenipapo, ocorrida em 13/3/1823 às margens do rio homônimo na vila de Campo Maior, Piauí. Na ocasião, os brasileiros, sem experiência ou armas adequadas, enfrentaram as tropas portuguesas.
Os lusos venceram em um cenário de calor escaldante e um rio em baixa. Em poucas horas, houve cerca de 200 mortes de brasileiros, número maior ao registrado durante 16 meses dos conflitos envolvendo a independência da Bahia. Após a derrota, com táticas de guerrilha, sertanejos atacaram o acampamento português de surpresa.
Eles levaram armas, munição, dinheiro e a bagagem do comandante adversário, que acabou por determinar a retirada de suas tropas do Piauí. Pictoricamente, o conflito se vale das pinceladas curtas e das cores quentes para representar um embate de luzes em um cenário em que a natureza, recriada pela pintura, surge como protagonista.
No verso da tela, a letra rebuscada e as manchas em tons de ocre fazem recordar que aquilo que conhecemos é o que está nos livros e documentos. Os dramas das pessoas desconhecidas que morreram não constam das narrativas históricas. Nesse aspecto, a arte permite imaginar aquilo que os registros oficias ignoram.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.