Homenagem a um artista brasileiro

Celia Gondim - tecidos, bico de algodão, rendas, torçal e peças de plástico, metais e cerâmica - 66 x 57 2016

O trabalho alude a Arthur Bispo do Rosário, um dos mais inquietantes artistas visuais brasileiros. O seu célebre manto foi realizado com o objetivo de lhe servir de vestimenta para quando entrasse no Céu; mas ele acabou endo enterrado sem ele. A indumentária, porém, se disseminou pelo mundo, sendo exposto inclusive na Bienal de Veneza.

O trabalho de Celia Gondim é uma interpretação visual do místico objeto. Ele é uma coletânea de elementos coletados pela artista no século XXI. Enquanto o Bispo utilizava aquilo que estava disponível na instituição manicomial onde viveu por meio século, ela utiliza resíduos da sociedade contemporânea a e os mais diversos objetos e tecidos.

O resultado faz pensar sobre aquilo que cada um é. Será que conhecer aquilo que recolhemos do mundo ao nosso redor não é um caminho. O “manto” da artista, nesse sentido, traz objetos e cores que ela foi selecionando para estabelecer a sua composição, o seu mundo plástico.

Portanto, o que ela apresenta não é apenas uma releitura ou uma recriação, mas uma obra autônoma. Homenagear alguém não significa subserviência, mas reflexão. Cada objeto que está no manto de Celia Gondim é uma escolha emocional e intelectual, um passo artístico rumo ao desconhecido que torna a arte uma vereda de fascínios.

Oscar D'Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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