Líder supremo do Irã acusa EUA e Israel de fomentar ‘distúrbios’ no país

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou nesta segunda-feira (3/10) os Estados Unidos e Israel de fomentar a onda de distúrbios e protestos no país após a morte de Mahsa Amini.

A jovem curda de 22 anos morreu em 16 de setembro, depois de ser detida três dias antes pela polícia da moral em Teerã por não cumprir o rigoroso código de vestimenta que exige que as mulheres usem o véu.

Sua morte gerou a atual onda de protestos, que se espalhou por várias regiões do país e entrou em sua terceira semana, tornando-se a mais importante na República Islâmica desde 2019, que foi provocada pela alta dos preços da gasolina.

O movimento de protesto neste fim de semana envolveu estudantes, que entraram em confronto com as forças de segurança na principal universidade científica iraniana, em Teerã.

Hoje, Khamenei, de 83 anos, acusou os Estados Unidos e Israel de fomentar a agitação.

“Digo claramente que esses distúrbios e a insegurança foram organizados pelos Estados Unidos e pelo falso regime sionista de ocupação, bem como seus agentes, com a ajuda de alguns iranianos traidores no exterior”, declarou o guia supremo em seu primeiro comentário público sobre o tumultos provocados pela morte de Amini.

“Mulher, vida, liberdade”
De acordo com a agência Mehr, quase 200 estudantes se reuniram na Universidade Tecnológica de Sharif no domingo e gritaram frases contra o sistema religioso que vigora na República Islâmica, incluindo “Mulher, vida, liberdade” e “Os estudantes preferem a morte à humilhação”.

A agência informou que eles protestavam contra a morte de Amini e contra a detenção de estudantes durante as manifestações das últimas semanas.

A polícia utilizou armas de paintball e gás lacrimogêneo contra os estudantes Os agentes também carregavam armas que atiram balas de aço não letais, indicou a Mehr.

A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega, divulgou um vídeo que mostra policiais em motos perseguindo estudantes em um estacionamento. Outra gravação mostra os agentes levando os detidos com as cabeças cobertas com sacos.

Em outro vídeo, tiros e gritos são ouvidos enquanto um grande número de pessoas corre pela rua à noite, imagens que a AFP não conseguiu verificar com fontes independentes.

“Forças de segurança atacaram Universidade Tecnológica de Sharif em Teerã esta noite. Tiros foram ouvidos”, afirmou o IHR no Twitter.

Em outro vídeo que o IHR diz ter sido gravado em uma estação de metrô de Teerã, uma multidão grita: “Não tenha medo, não tenha medo! Estamos todos juntos!”

O grupo ‘Human Rights in Iran’, com sede em Nova York, afirmou que está “extremamente preocupado com os vídeos procedentes da Universidade Sharif e de Teerã (…) que mostram uma violenta repressão dos protestos e detidos sendo transferidos com as cabeças totalmente cobertas”.

Também foram registrados protestos em outras universidades, como a de Ispahan, 400 km ao sul de Teerã.

A agência Mehr afirmou que “a Universidade Tecnológica de Sharif anuncia que, devido aos acontecimentos recentes e à necessidade de proteger os estudantes, todas as aulas acontecerão de maneira virtual a partir de segunda-feira”.


Desde que os protestos explodiram em 16 de setembro, dezenas de manifestantes morreram e mais de mil foram detidos. Entre as vítimas fatais também estão integrantes das forças de segurança.

Estrangeiros detidos
Uma jovem italiana está entre os estrangeiros detidos no Irã após a onda de protestos desencadeada pela morte de Mahsa Amini, denunciaram seus pais nesta segunda-feira na imprensa italiana.

Eles pedem ajuda para conseguir sua libertação. “Fui presa, estou em uma prisão em Teerã. Por favor, me ajudem”, implorou Alessia Piperno durante uma breve conversa telefônica com seus pais no domingo, informou o jornal Il Messaggero.

Na sexta-feira, as autoridades iranianas anunciaram a prisão de nove estrangeiros no contexto dos protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini.

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