O varejo passou por profundas mudanças nos últimos dois anos, acompanhando o movimento de toda a sociedade, e o que era certo antes do início da pandemia, não é mais a regra para o comércio.
Se voltarmos um pouco mais, há uma década os grandes supermercados lideravam disparadamente este setor e eram os preferidos dos consumidores, oferecendo uma infinidade de mix de produtos, desde cama, mesa e banho, até açougue e hortifruti.
Porém, com o passar do tempo e com tantas adaptações nos hábitos de consumo, os mercados de vizinhança passaram a ter uma fatia maior nessa divisão. O motivo é porque oferecem jornadas de consumo simples, ágeis, personalizadas, convenientes – por serem próximas das residências dos consumidores -, além de ofertarem produtos de qualidade. Tão importante quanto todos esses pontos, muitos contam ainda com opções de interações digitais.
Outro fator favorável para os mercados de bairro é que as compras mensais, que eram momentos pontuais, sendo realizadas uma ou duas vezes no período, também deram lugar para idas mais frequentes. Além disso, com o aumento do consumo de refeições prontas, o mercado deixou de ser a principal (e isolada) fonte de alimentação de muitos brasileiros. A consultoria Kantar aponta que o hábito de pedir comida cresceu no Brasil: em 2020, o índice de consumidores que utilizaram o delivery uma vez na semana ou mais era de 15%, sendo que em 2021, cresceu para 18% e pulou para 28%, em 2022.
Há ainda um outro sentimento que motivou o aumento das compras nos estabelecimentos de bairro. A pandemia trouxe para os consumidores um movimento de apoio aos negócios locais, para incentivar suas atividades, considerando que muitos deles tiveram que reduzir o quadro de colaboradores ou até mesmo encerrar suas operações, durante o período pandêmico. Conforme estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 75.2 mil lojas fecharam as portas somente em 2020.
A higiene também foi um fator chave para o incentivo aos mercados de vizinhança, pois em grandes centros de consumo, a concentração de pessoas é maior. Já em estabelecimentos menores, o fluxo de pessoas ao mesmo tempo também tende a ser menor, diminuindo as chances de contágio na época em que a pandemia estava em seu auge.
E aqui cabe dividir mais um importante ponto que incentivou a alta desse tipo de comércio: os valores atrativos dos aluguéis de lojas de rua, principalmente fora das regiões mais próximas dos centros comerciais. De acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), com a alta na expansão de supermercados de vizinhança e a retomada dos serviços, graças a desaceleração dos casos graves de coronavírus, houve aumento na locação de lojas de rua.
O aprimoramento das operações de abastecimento, entrega e logística que a pandemia imprimiu em todos os setores, principalmente no alimentar, foi um divisor de águas nesse crescimento. A logística brasileira evoluiu muito nos últimos dois anos e viu nos comércios de bairro um enorme potencial, o que só foi possível graças ao expressivo aumento de demanda fora dos grandes centros.
Estes estabelecimentos locais estão a cada dia mais especializados, atuando como minimercados, padarias, bombonieres, hortifrutis e até mesmo lojas de autoatendimento dentro de condomínios espalhados por todo o Brasil, com um mix de produtos que atendem o consumidor de maneira assertiva e que oferece também muita comodidade.
Diante desse novo cenário, a seguir, listo algumas tendências para ficar de olho em mercados de vizinhança em 2023.
Produtos com cultivo ou criação saudáveis
O mix de produtos saudáveis atrai muitos consumidores e segue em alta. Fazem parte dele a criação de animais livres, sem hormônios ou a cultura de vegetais, frutas e legumes orgânicos. Além disso, a oferta de farinhas, grãos e leites que sejam alternativos aos convencionais também é uma forma de diversificar a clientela e atrair um público que costuma ser fiel.
Digitalização do contato com os clientes
Oferecer opções como promoções específicas no ambiente online e delivery, seja próprio ou em apps do setor, atende aos anseios dos clientes mais jovens, ou ainda que são usuários ativos de tecnologia. Além disso, uma forte presença digital acaba por gerar o engajamento dos consumidores com a marca e também dos funcionários. O e-commerce é outro caminho, mas neste caso, será preciso investimento em tecnologia, sendo uma boa pedida para quem planeja uma expansão.
WhatsApp
Apesar de ser uma ferramenta digital, o WhatsApp merece um capítulo à parte. De acordo com a Pesquisa Nacional Datafolha (março/2022), a ferramenta está presente em 92% dos smartphones no Brasil e quase todo brasileiro com um dispositivo móvel tem WhatsApp. Portanto, é um canal não só de venda, mas de relacionamento e interação entre consumidor e marca.
Mix de produtos eficiente
Segundo pesquisa da consultoria GFK (agosto/2022), os estabelecimentos estão a cada dia menores, sendo que o maior impacto desta diminuição está na área de estocagem, o que indica a importância de ter produtos com rápida saída e que apresentam grande giro.
Diversificar meios de pagamentos
Ofereça maneiras diferentes para o cliente realizar pagamentos, pois ao disponibilizar opções, o consumidor tem a liberdade de escolher a mais adequada em cada momento ou situação. Mas, antes de saber quais meios são ideais para o seu varejo, avalie seu público-alvo, região, setor e considere tudo que possa contribuir para as escolhas mais adequadas. Além disso, ofereça pagamentos por meio de vale refeição, no caso de comercializar refeições prontas, ou ainda vale alimentação. Especialmente para empresas enquadradas na classificação fiscal MEI, que é uma categoria voltada para pequenos e micro negócios, ao aceitar tais meios de pagamentos é possível atrair mais clientes e, consequentemente, impulsionar o faturamento.
*Antonio Alberto Aguiar é Diretor Executivo de Estabelecimentos na Sodexo Benefícios e Incentivos no Brasil. Possui mais de 15 anos de experiência na companhia, tendo atuado nas áreas relacionadas ao Comercial (segmentados em Franquias, Grandes Contas e PME), parcerias estratégicas, promoções, serviços, vendas, credenciamento e estratégia de sinalização. Atualmente, lidera ações da Sodexo Brasil para fortalecer o relacionamento com os estabelecimentos. É graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário do Triângulo (UNITRI), pós-graduado em Controladoria na mesma instituição de ensino e possui MBA em Finanças pela IBMEC.