O diagnóstico envolve uma combinação de exames e avaliação clínica
No começo de janeiro, durante a pré-temporada do Fluminense, o jogador de futebol Ganso descobriu uma miocardite nos exames de rotina feitos pelo clube. A condição levou ao afastamento imediato do atleta dos gramados, que ainda não retornou à prática esportiva. Segundo o cardiologista Bruno Gustavo Chagas (CRM-RO 4359 e RQE 1140), a miocardite é a inflamação do músculo do coração, que enfraquece as fibras musculares, dilata as cavidades ventriculares, aumenta o volume e as pressões de sangue dentro das câmaras cardíacas. O problema pode causar insuficiência cardíaca (incapacidade de o coração bombear a quantidade suficiente de sangue para todo o organismo), arritmias (batimentos irregulares), cardiomiopatia dilatada crônica e até morte súbita.
Causas
Virais: são as mais comuns, como o vírus da gripe (influenza), Coxsackievirus
(causa doenças como a mão-pé-boca) e outros respiratórios.
Bacterianas: menos comuns, mas podem incluir bactérias como a Streptococcus,
que causa a febre reumática.
Fúngicas e parasitárias: mais raras, geralmente em pessoas com sistema imunológico enfraquecido.
Autoimunes: doenças como o lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e esclerodermia, o sistema imunológico ataca o próprio corpo, incluindo o coração.
Medicamentosas: certos medicamentos podem causar miocardite como efeito colateral. Entre os mais comumentes associados à miocardite estão os antipsicóticos, como clozapina e olanzapina, bem como tratamentos de imunoterapia, particularmente inibidores de ponto de verificação imunológico, como nivolumabe e pembrolizumabe. Além disso, salicilatos, como mesalazina também foram sinalizados como potenciais contribuintes para miocardite.
Os inibidores de ponto de verificação imunológico, incluindo nivolumabe e pembrolizumabe, são significativos devido à sua ligação com a miocardite, visto que, às vezes, podem causar toxicidade cardiovascular grave. “Embora a miocardite resultante desses tratamentos seja incomum, ela pode ser grave e fatal, o que significa que o monitoramento cuidadoso é essencial, exigindo uma interrupção no tratamento junto ao uso de corticosteroides”, observa o especialista.
Tóxicas: exposição às substâncias como álcool e drogas ilícitas.
Vacinais: em alguns casos, vacinas como as de mRNA contra Covid-19.
Sintomas
Bruno lembra que os sintomas da miocardite podem variar bastante, desde casos assintomáticos até quadros graves. Alguns dos mais comuns incluem:
Fadiga: cansaço excessivo e falta de energia.
Falta de ar: especialmente durante atividades físicas ou ao deitar.
Dor no peito: a miocardite pode provocar dor no peito, variando de leve a intensa.
Palpitações: sensação de batimentos cardíacos rápidos, fortes ou irregulares.
Inchaço: nas pernas, tornozelos e pés devido à retenção de líquidos.
Sintomas semelhantes aos da gripe: febre, dores musculares e mal-estar geral.
Diagnósticos por exames de sangue
Troponina: é uma proteína liberada quando há dano ao músculo cardíaco.
Peptídeo natriurético cerebral (BNP): avalia a função cardíaca e detecta sinais de insuficiência cardíaca.
Marcadores inflamatórios: a proteína C-reativa (PCR) e a velocidade de hemossedimentação (VHS) indicam inflamação no corpo.
Outros tipos de diagnósticos
Eletrocardiograma (ECG): registra a atividade elétrica do coração e pode mostrar alterações como arritmias e sinais de inflamação.
Ecocardiograma: utiliza o ultrassom para criar imagens do coração, avaliando o tamanho, a forma e a função das câmaras cardíacas.
Ressonância magnética cardíaca (RM): fornece imagens detalhadas do coração e pode detectar inflamação, cicatrizes e outras alterações no miocárdio. “Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia do miocárdio, onde uma pequena amostra do músculo cardíaco é removida para análise laboratorial”, ressalta.
Tratamento da causa subjacente Infecções: uso de antivirais, antibióticos ou antifúngicos, dependendo do agente infeccioso.
Doenças autoimunes: uso de imunossupressores para controlar a resposta imunológica.
Corticosteroides: em casos de miocardite autoimune ou inflamatória.
Medicamentos para insuficiência cardíaca: como diuréticos, inibidores da ECA e betabloqueadores para melhorar a função cardíaca.
Antiarrítmicos: para controlar arritmias.
Repouso e restrição de atividades físicas como forma de tratamento: é fundamental repousar e evitar atividades que exijam esforço físico para permitir que o coração se recupere.
Acompanhamento e cuidados contínuos no tratamento: consultas regulares com o cardiologista para monitorar a função cardíaca, ajustar a medicação e detectar possíveis complicações. “A adoção de hábitos saudáveis, como dieta equilibrada, controle do peso, evitar o consumo de álcool, tabaco e praticar exercícios leves sob orientação profissional”, finaliza o cardiologista.