O lúdico ato de criar

Leite de pedra, 2023 – Claudia Seber (@claudiaseber) – bloco de concreto de descarte, torneira de descarte, gota de cristal sintético  13 x 20 x 18 cm

Discutir o que é arte parece estéril quando é cada vez mais evidenciado que basta dar essa nomeação a algum objeto para que tenha esse status. No entanto, há diversas formas de pensar a criação visual. Pode ser uma mera tentativa de imitar o que se considera real, uma transformação daquilo que se julga conhecer ou uma interpretação do mundo que obriga a uma reflexão sobre o significado da vida.

As criações de Claudia Seber se filiam a essa terceira vertente. Isso significa que existe, em cada proposição plástica, uma resposta vivencial fundamentada, principalmente, nas maneiras como as pessoas dialogam com o existir. Há uma proposição filosófica que se materializa pela visão crítica do cotidiano, baseada em um reaproveitamento de materiais que consolida um pensar do mundo.

Seja nos títulos ou nas obras propriamente ditas, surge uma crença nas possibilidades humanas de se relacionar da melhor maneira possível com as desumanidades em uma forma de aprendizado permanente. Há um algo de irônico nessa situação, o que dá às obras um tom lúdico que gera tensões, muitas vezes, com o dramático, em um processo de permanente reflexão sobre a existência que resulta em um fazer diferenciado.

Quanto mais minimalista o trabalho se manifesta, mais a função do pensar cabe ao observador. Menos elementos e mais vazios levam o observador a pensar melhor o que pode conduzir a um adensamento dos cinco sentidos. Surge assim a possibilidade de um entendimento adensado dos significados da arte como motivadora de potenciais deslumbramentos. Os estranhamentos gerados pela estética (impacto visual) e pela poética (fundamentação da pesquisa plástica) permitem desvelar novas dimensões internas nas relações de cada pessoa consigo mesma, com o outro, com a sociedade, com a natureza e com o universo.

AGENDA: A artista participará da exposição coletiva Ocê Ano, do grupo Matilha, em Embu das Artes, São Paulo e Catanduva, no Estado de São Paulo, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2023.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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