Obras de arte são sinais de pontuação. Cada um indica uma maneira de se relacionar com significados denotativos, ou seja, sentidos literais, e significações, vale dizer, conotações plenas de metáforas, que formam alegorias.
Os sinais de pontuação contribuem para dar coerência e coesão aos textos. Desempenham ainda funções estilísticas. São eles: o ponto, a vírgula, o ponto e vírgula, os dois pontos, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, as reticências, as aspas, os parênteses e o travessão.
O ponto indica o final de um período. Ocorre quando uma obra se fecha em si mesma. Declara uma verdade e não deixa espaço para a imaginação. A vírgula indica uma pausa. Muda o significado quando usada de modo incorreto. Ocorre nos trabalhos visuais em que cada detalhe é fundamental para a compreensão do todo.
O ponto e vírgula separa orações e costuma gerar confusão, porque representa uma pausa mais longa que a vírgula e mais breve que o ponto. Criações com essa característica estão em um lugar privilegiado: o da dúvida e da incerteza, instaurando mistérios.
Os dois pontos introduzem uma fala ou enumeração. São obras que apontam para fora de si e despertam pouco interesse. Já o ponto de exclamação indica sentimentos como surpresa, desejo, susto, entusiasmou espanto. Provocam adoração ou rejeição, mas não passam despercebidos.
O ponto de interrogação faz perguntas. É a obra que questiona tudo o que existe. Sua complementação são as reticências, que suprimem trechos ou indicam que os sentidos vão além do que está expresso. Já as aspas delimitam citações. Isso ocorre quando um trabalho não se basta em si mesmo e precisa do apoio em outro.
Os parênteses isolam explicações ou acrescentam informações. Também revelam que o trabalho não se basta. O travessão, por seu turno, indica diálogos e substitui parênteses ou dupla vírgulas. É um curinga. Pode ser um soco no estômago, um intervalo no cotidiano ou uma ampliação de significados originais.
Assim, cada sinal de pontuação é, em si mesmo, um trabalho artístico. Pode indicar como cada pessoa se relaciona com ele, seja pela maneira como os cria ou analisa.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.
