Os avanços na cirurgia robótica e inteligência artificial e a revolução na saúde das mulheres

O conceito de saúde da mulher evolui ao longo das últimas décadas e deve abranger não apenas a saúde sexual e reprodutiva, mas também um espectro mais amplo que inclua a saúde mental, materna e menstrual, bem como a prevenção do câncer e das doenças crônicas como obesidade. Durante séculos, a assistência médica às mulheres enfrentou inúmeros desafios incluindo opções limitadas de tratamento até procedimentos cirúrgicos invasivos com períodos de recuperação prolongados. Tal cenário vem mudando drasticamente em anos recentes com os avanços extraordinários da tecnologia.

Entre os novos avanços que apresentam resultados promissores estão a cirurgia robótica e o uso de inteligência artificial (IA) em vários campos na assistência à saúde feminina. O uso da cirurgia robótica em ginecologia vem redefinindo o atendimento médico para mulheres, proporcionando tratamentos mais seguros, menos invasivos e mais eficazes para condições benignas que atingem milhões em todo o mundo como miomas, endometriose e até mesmo câncer. Estudos recentes revelam que a cirurgia assistida por robótica não está apenas melhorando os resultados cirúrgicos, mas também reduzindo o tempo de recuperação pós-operatória e as complicações resultando em melhor qualidade de vida.

Apesar das vantagens inovadoras que a cirurgia robótica poderia proporcionar, alguns estudos que argumentam que não há diferença clinicamente significativa entre a cirurgia robótica e outros métodos cirúrgicos. A robótica, sem dúvida, transformou a cirurgia ginecológica, oferecendo procedimentos mais seguros e menos invasivos, com melhores resultados para as pacientes. Embora desafios como custo e treinamento persistam, as pesquisas contínuas e os avanços tecnológicos prometem aprimorar ainda mais o papel da robótica no avanço da saúde da mulher por meio de cuidados ginecológicos inovadores.

A inteligência artificial (IA) vem sendo usada nas pesquisas médicas de várias formas desde o desenvolvimento de novas drogas a análise de imagens obtidas por diversos métodos e até apoiando a descoberta de alterações genéticas associadas a várias doenças. Embora a IA seja capaz de identificar novos padrões em dados e analisar grandes conjuntos de dados, sua eficácia depende da qualidade e quantidade dos dados e da experiência daqueles que implementam os algoritmos. As aplicações atuais da IA na saúde da mulher são inúmeras e os resultados de estudos recentes são promissores. Em doenças benignas femininas como a endometriose, por exemplo, que afeta mais e 7 milhões de brasileiras, a IA tem sido usada na análise de imagens obtidas pela de ultrassonografia à identificação da melhor abordagem terapêutica assim como na análise de resposta aos tratamentos e na avaliação de técnicas cirúrgicas como a robótica. Tais tecnologias são promissoras, pois podem ajudar no diagnóstico da doença e reduzir o atraso diagnóstico atual assim como os custos do sistema de saúde ao identificar a melhor opção de tratamento para cada mulher e até ajudar no treinamento de profissionais de saúde e cirurgiões.

Não há dúvida que a IA tem um potencial significativo no avanço do diagnóstico e tratamento de várias doenças assim como na educação e treinamento de profissionais de saúde, mas deve ser aplicada com cuidado e transparência para evitar equívocos e assegurar a precisão diagnóstica e terapêutica. Barreiras ao uso da IA na saúde incluem os custos, a necessidade e treinamento dos profissionais e das ferramentas de IA assim como a necessidade de validação dos modelos e populações diversas.

O desenvolvimento de instrumentos robóticos menores para cirurgias mais precisas, associada a ferramentas de IA cada vez mais refinadas deve ampliar o acesso a estas técnicas inovadoras assim como os resultados cirúrgicos. Os principais desafios como custo e treinamento persistem e a expectativa é que pesquisas contínuas aliada a avanços tecnológicos permitam o aprimoramento da cirurgia e a técnica conquiste um papel importante na saúde da mulher por meio de cuidados ginecológicos inovadores.

Em suma, a integração de novas tecnologias como a robótica e a IA em ginecologia representa um avanço significativo na medicina moderna e deve ter um papel fundamental na definição do futuro da saúde da mulher em todo o mundo. Infelizmente, os investimentos na saúde da mulher permanecem baixos, compreendendo menos de 2% dos atuais projetos da Indústria Farmacêutica. Condições femininas benignas como endometriose, miomas, sangramento uterino anormal ou menopausa recebem pouca atenção e investimentos, apesar do enorme efeito adverso que podem ter na qualidade de vida das mulheres, de suas famílias e comunidades caso não sejam tratadas adequadamente. Dessa forma, é fundamental unir esforços para mudar esse cenário e priorizar a saúde feminina na agenda dos governos, universidade, entidades médicas e demais organizações da sociedade civil, pois os investimentos na saúde da mulher retornarão em termos de melhoria da qualidade de vida e saúde, além de crescimento econômico e justiça social, o que resulta em benefícios para todos.

Márcia Mendonça Carneiro, Ginecologista do Biocor Rede D’Or, Professora Titular- Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG

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