Sinfonia imagética

Lygia Reinach Colar, 2000 – cerâmica – Pina Contemporânea @lygiareinach   @pinacotecasp

Um colar pode ser um adorno, mas também pode ser lido como uma linha da vida. Esta vertente auxilia a perceber a obra de Lygia Reinach. Os simbólicos movimentos propostos pela peça na Pina Contemporânea são uma caminhada visual por ampla gama de sentidos.

As peças, que tem a sua origem no barro, matriz da vida, são dispostas de modo a criar uma sintonia plástica que não pode ser vivenciada com pressa. Merecem ser vistas como uma alegórica jornada que cada um pode fazer dentro de si mesmo. Trata-se de uma espécie de misteriosa grafia que evoca os elegantes movimentos da natureza.

Trata-se de uma jornada de elementos visuais que alegorizam vivências. Aspectos circulares, que se aproximam de mandalas, e lineares, que evocam os fios da vida, geram um percurso que tem algo de novelo e, ao mesmo tempo de casulo. Assim, o tecer a própria trajetória e o guardar aspectos íntimos dela dialogam.

Os momentos de contemplação do trabalho trazem um silêncio que grita porque há na criação da artista a instauração de elos entre o tempo e o espaço regidos por pausas. A obra dá voz a quem a vê em um sinestésico processo que potencializa o acender de luzes interiores do observador. É estabelecida assim uma densa e sutil sinfonia imagética.

 

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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