Ao assistir ao Tom Jobim Musical em cartaz em São Paulo, senti algo raro nos dias de hoje: emoção genuína. O espetáculo não é apenas uma homenagem ao maestro da Bossa Nova, mas um respiro profundo em meio à asfixia cultural que vivemos.
A escolha do repertório foi um golpe de mestre. Nenhum hit foi jogado ao acaso; cada canção foi costurada com delicadeza, respeitando a grandiosidade da obra de Jobim. A produção soube equilibrar os clássicos inevitáveis, como Só danço samba, Garota de Ipanema, Chega de Saudade com pérolas menos populares, mas igualmente arrebatadoras. O elenco, liderado por um inspirado Elton Towersey, não se contenta em apenas cantar—eles interpretam, vivem e revivem a era dourada da MPB. A coreografia, precisa e vibrante, complementa o espetáculo com um frescor que falta à música brasileira de hoje.
E é aqui que a reflexão se impõe. Saí do teatro encantado, mas também tomado por uma tristeza inevitável. Porque este musical é, acima de tudo, um lembrete cruel de que estamos órfãos. A geração de Tom Jobim, Pixinguinha, Milton Nascimento e Elis Regina está partindo, e nada—absolutamente nada—se compara ao que eles fizeram.
Olhemos ao redor. O que domina as rádios e os streamings? Letras banais, melodias preguiçosas, batidas repetitivas. A música brasileira virou um fast food sonoro, consumido em dois minutos e descartado logo em seguida por conta de uma boa dor de barriga. A profundidade deu lugar ao refrão chiclete, e o lirismo cedeu espaço para rimas pobres e vazias. O público parece ter desaprendido a apreciar a complexidade harmônica, o encantamento da poesia, a beleza do silêncio entre as notas.
Não é saudosismo. É constatação. A nova geração não tem culpa de crescer em um cenário onde o efêmero vale mais do que o eterno. Mas não podemos fingir que a música brasileira não encolheu, não empobreceu, não se acovardou diante do mercado.
O Tom Jobim Musical é um bálsamo, mas também um alerta. Se não começarmos a valorizar nossa arte com a mesma reverência que esse espetáculo demonstra, em breve estaremos apenas contando histórias sobre um tempo em que a música brasileira ainda era música.
Texto – Fredi Jon (Músico, produtor de eventos, escritor, jornalista ) www.serenataecia.com.br