Uma crise silenciosa: médicos enfrentam risco de saúde mental fragilizada

A saúde mental dos médicos tem se tornado um tema crescente de preocupação global. A exigência da profissão com longas jornadas de trabalho, responsabilidades emocionais, físicas e a pressão constante por excelência fazem da Medicina uma profissão com alta carga de estresse – condição esta acentuada com a pandemia de Covid-19. Neste cenário, médicos apresentam maior risco de sofrimento mental, como depressão e burnout, quando comparado à população.

Estudos internacionais demonstram que a prevalência de transtornos mentais entre médicos é alarmantemente alta. Uma revisão sistemática publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), em 2019, revelou que cerca de 27% dos médicos apresentam sintomas de depressão, enquanto 17% relatam ansiedade 1. Outro estudo realizado em 47 países mostrou que 28,8% dos médicos consideram níveis elevados de esgotamento emocional 2.

A taxa de suicídio entre médicos também é significativamente mais elevada do que na população geral. Um artigo publicado no British Medical Journal (BMJ) em 2018 indicou que médicos têm 1,4 vezes mais probabilidade de cometer suicídio do que a população geral 3. Nos Estados Unidos, a taxa de suicídio entre médicos é estimada em 28 a 40 por 100.000, o que é substancialmente maior do que a taxa nacional de 12,3 por 100.000 4.

No Brasil a situação é preocupante, com dados recentes evidenciando que 69,4% dos médicos já apresentaram sinais de depressão durante a vida 5. Fatores como alta carga de trabalho, jornadas prolongadas, exposição a situações de vida ou morte e a necessidade de tomada de decisões rápidas e precisas contribuem para esse cenário 6, sendo no início da carreira o período mais hostil 7.

A falta de programas eficazes de suporte psicológico nas instituições de saúde é um problema crônico. A implementação de políticas de bem-estar, criação de ambientes de trabalho que encorajem a busca por apoio, e a inclusão de disciplinas sobre saúde mental e bem-estar na formação médica é fundamental e pode preparar melhor os futuros médicos para lidar com as pressões da profissão. Programas de residência médica também devem abordar essas questões de forma mais abrangente.

A saúde mental dos médicos é uma questão urgente e complexa que exige a atenção de gestores de saúde, instituições médicas e sociedade em geral. Globalmente e especificamente no Brasil é imperativo implementar políticas que promovam o bem-estar dos médicos, incluindo melhorias nas condições de trabalho, suporte psicológico e a criação de uma cultura que valorize a saúde mental.

Por meio de esforços coletivos é possível construir um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável para os médicos. O que, por sua vez, beneficiará todo o sistema de saúde e a sociedade como um todo. Investir na saúde mental dos médicos não é apenas uma questão de humanidade, mas também de eficiência e qualidade no atendimento à saúde da população.

Referências:

  1. Rotenstein LS, Torre M, Ramos MA, et al. Prevalence of Burnout Among Physicians: A Systematic Review. JAMA. 2018;320(11):1131–1150.
  2. Purba AK, Kootker JA, Rasyid A, et al. Burnout among doctors across the globe: A systematic review and meta-analysis. Journal of Occupational Health. 2020;62(1):e12155.
  3. Schernhammer E. Taking their own lives — the high rate of physician suicide. BMJ. 2005;330(7496):984.
  4. Center C, Davis M, Detre T, et al. Confronting Depression and Suicide in Physicians: A Consensus Statement. JAMA. 2003;289(23):3161-3166.
  5. Conselho Regional de Medicina do Estado do Maranhão: Saúde Mental dos Médicos, 15/01/2024. Disponível em: https://crmma.org.br/noticias/saude-mental-dos-medicos.
  6. Santos LMP, Oliveira ACP, Ramos MN, et al. Jornada de trabalho e saúde mental de médicos residentes no Brasil. Brazilian Journal of Medical Education. 2019;43(2):134-142.
  7. Gracino ME, Zitta ALL, Mangili OC, Massuda EM. A saúde física e mental do profissional médico: uma revisão sistemática. 2016Jul;40(110):244–63

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