Valorização de carros antigos no Brasil supera a taxa Selic e o CDI, nos últimos 10 anos

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Na última década, a valorização de veículos antigos no Brasil chegou a superar o dobro da taxa básica de juros da economia. Um estudo recente feito pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP) analisou o comportamento dos preços de 24 modelos clássicos, entre os anos 2005/2006 e 2015/2016. Segundo a pesquisa, os carros antigos preferidos dos colecionadores são o Mustang e Karmann Ghia, mas a Kombi Corujinha foi quem liderou a valorização.

O estudo da FGV EAESP mostra que em mercados mais maduros, como dos Estados Unidos e Reino Unido, o retorno financeiro dos carros clássicos supera o de outros investimentos mais comuns, como ouro, residências de luxo ou ações. Mas é importante ressaltar que esses veículos normalmente não são adquiridos para uso diário e locomoção de seus proprietários, mas sim como objetos de desejo – comparados às obras de arte.

No Brasil, o mercado de automóveis antigos não é tão aquecido quanto nos países mencionados, mas o estudo sugere que a compra de um modelo clássico por aqui pode, também, ser um bom investimento. O retorno financeiro de todos os 24 tipos de veículos analisados pelos pesquisadores foi superior ao IGP-M e à caderneta de poupança dos últimos 10 anos. Desses modelos, 20 apresentaram valorização acima da taxa Selic e também do CDI, que é referência no cálculo de juros pagos pelos bancos em CDBs, por exemplo.

Na última década, os cinco carros antigos que mais valorizaram acima da taxa básica de juros foram a Kombi Corujinha ano 68 a 75 (135,1%), o Dodge Charger ano 73 a 75 (125,9%), o Dodge Dart 2 portas ano 70 a 73 (117,7%), o Camaro Coupê ano 67 a 69 (116%) e o Maverick GV V8 ano 73 a 76 (75,5%). Os cinco que menos valorizaram foram o Mustang Hard Top anos 66 a 68 (-32,5%), a Mercedes SL anos 73 a 75 (-27,8%), a Rural Willys ano 68 a 70 (-13,1%), o Porsche Envemo Super 90 ano 80 a 82 (-5%) e o Camaro conversível ano 67 a 69 (2,4%).

O professor da FGV EAESP e um dos autores do estudo, Arthur Ridolfo Neto, explica que entre as razões por trás da alta valorização de alguns automóveis antigos está a presença em filmes famosos, que acaba tornando aquele modelo um ícone de desejo. “Outro fator de influência é o aniversário de fabricação dos modelos, quando a fábrica aproveita para fazer ações de marketing. Em 2014, o aniversário de 50 anos do Mustang foi assunto no mundo todo. Até a Rede Al Jazeera divulgou”, complementou o pesquisador.

Quanto ao destaque da Kombi Corujinha, que lidera a lista de mais valorizados no Brasil, o professor da FGV explica que a questão é puramente emocional. “A Kombi é um veículo utilitário, que nunca foi sofisticado, mas apresentou uma valorização significativa. Talvez por sua simplicidade e por ter feito parte da vida de muitas pessoas”, ponderou Arthur Ridolfo. Ele lembrou também que o modelo foi, por anos, um veículo comum no transporte escolar. Por isso, muitos brasileiros lembram-se de suas infâncias ao verem uma Kombi Corujinha.

Segundo a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), são considerados carros antigos aqueles que foram fabricados há mais de 30 anos, conservam características originais e têm Certificado de Originalidade reconhecido pelo Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN. Esse automóveis são facilmente reconhecidos pelas placas de sinalização da cor preta – que isenta o carro de algumas obrigatoriedades mais recentes.

Metodologia do estudo

Os pesquisadores conversaram com 103 colecionadores e selecionaram 24 modelos de veículos antigos para compor a pesquisa. Após esse processo, consultaram 6 mil classificados de periódicos da área para descobrir quanto esses automóveis custavam entre os anos de 2005 e 2006. Em seguida, os valores foram atualizados para 2015/2016, levando em conta índices como IGP-M, caderneta de poupança, taxa CDI e taxa Selic.

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