O título da obra pode indicar que estamos perante um estudo visual. Em parte, isso é verdade. Existe um jogo de cores de cores e tonalidades, em que representações de uma maçã vermelha com fundo verde e uma pera, em situação pictórica inversa, dialogam com um prato branco.
Há técnica e lirismo na composição e no fazer artístico, mas o conjunto também traz a potencialidade de outras leituras. A maçã, pela sua cor vermelha e pelo fato de, ao ser cortada ao meio, apresentar uma forma semelhante a um pentagrama que guarda as sementes, em várias mitologias, como céltica, é relacionada à magia, à imortalidade e ao conhecimento. Posteriormente, foi associada ao Paraíso e ao pecado original, em numerosas criações vinculadas às Sagradas Escrituras bíblicas.
A pera, por sua vez, pela doçura de seu suco, é vista como fruta conectada à sensualidade. Também traz simbologias que dizem respeito ao feminino, pois seu formato remete ao útero.
O prato, por sua vez, terceiro elemento do trabalho, acomoda os alimentos a serem consumidos, mas aparece vazio, instaurando um estranhamento na conversa com as duas frutas soltas no espaço. Ele surge visualmente incompleto, como semicírculo, não exercendo, portanto, a função para o que foi criado no século XVI, substituindo placas ou travessas.
Com esse tipo de leitura, o estético e o simbólico ganham. Dialogam entre si, permitindo um mergulho mais denso nas cores e na composição, assim como nas possibilidades interpretativas que o trabalho visual sugere. Sensualidades, vazios e mistérios criam assim interrogações a serem desvendadas por cada observador.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.