Em um fim de tarde ensolarado no Sumaré, em São Paulo, Fredi Jon e sua cantora foram convidados para uma serenata especial. O evento, em homenagem a uma professora aposentada, seria realizado no quintal da casa da aniversariante, decorado com um toque nostálgico: móveis de madeira, toalhas de crochê e até uma mesa repleta de quitutes que lembravam o interior. No ar, pairava a promessa de um dia inesquecível.
A plateia era composta por velhinhas cheias de vida e crianças correndo de um lado para o outro. As idosas, cada qual com seu vestido floral, se deliciavam com os bolinhos de chuva e os biscoitos de polvilho como se fossem relíquias gastronômicas. Uma delas cochichou para a outra:
— Vou pegar mais um bolinho. A festa só está começando, e eu preciso de energia pra dançar!
Quando Fredi Jon dedilhou as primeiras notas no violão e a cantora soltou sua voz doce, o ambiente foi tomado por um misto de silêncio reverente e sorrisos encantados. Mas, como sempre, a serenata tinha que ter um toque de surpresa.
Uma criança, no meio da apresentação, com os olhos arregalados de curiosidade, levantou a mão como quem tem uma pergunta urgente. Fredi, sorrindo, deu uma pausa na música:
— Pois não, meu jovem?
O menino apontou para ele e, sem hesitar, perguntou:
— Você é o Visconde de Sabugosa? E ela é a Emília?
A plateia caiu na gargalhada. As velhinhas quase engasgaram com seus bolinhos, e Fredi, segurando o riso, respondeu:
— Ora, que honra ser comparado ao Visconde! Mas você acha mesmo que eu sou tão inteligente assim?
A cantora entrou na brincadeira, rodopiando o vestido como a boneca do Sítio e dizendo:
— E quem disse que eu não sou a Emília? Só estou disfarçada para essa missão secreta!
As crianças adoraram a ideia e começaram a chamá-los pelos novos nomes. Uma menina chegou a perguntar:
— Visconde, você tem um livro mágico aí?
Fredi, rindo, improvisou:
— Meu livro mágico é o violão. Ele não tem páginas, mas cada corda conta uma história. Quer ouvir?
E assim, continuaram a serenata, agora como personagens de Monteiro Lobato, com um toque de encanto literário. Entre músicas e risadas, as crianças dançavam ao som do “Visconde” e da “Emília”, enquanto as velhinhas disputavam os últimos quitutes. Uma delas, percebendo que a bandeja de bolinhos estava quase vazia, foi rápida:
— Deixa eu pegar mais um, antes que a Emília resolva enfeitiçar a gente com essa voz!
Ao final da serenata, uma das idosas comentou com Fredi:
— Meu filho, você não é o Visconde, mas trouxe a sabedoria e a alegria que a gente precisava hoje.
Fredi Jon sorriu, olhando para as crianças ainda brincando de sítio e para as senhoras que dançavam animadamente. A música havia feito mais do que ecoar pelas cordas do violão; ela havia transformado o quintal em um verdadeiro conto.
E, assim, o dia terminou com uma certeza: a arte, como o Sítio do Picapau Amarelo, sempre encontra um jeito de nos transportar para lugares onde a magia nunca envelhece.
Texto: Fredi Jon
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