Pedalando, de Luzia Velloso

Trabalhar com partes de bicicleta remete a Marcel Duchamp, considerado um dos pais da arte conceitual. No Brasil existe ainda a referência do Artur Bispo do Rosário. Esses dois paradigmas, respectivamente, de boa parte das discussões sobre manifestações artísticas em que o dizer vale mais que o fazer, e da arte bruta, trazem indagações.

A principal talvez seja que o objeto bicicleta não é mais o mesmo após passar por esses e outros criadores. A magia está em tomar um objeto cristalizado no imaginário coletivo e colocá-lo em uma nova configuração. Não se trata de descobrir o inusitado, mas, talvez, de desvelar aquilo que já existia, mas que não era explorado artisticamente.

As rodas dispostas por Luzia Velloso (@luziavelloso5327) evocam movimento. Podem ser associadas aos pedais que não vemos. São rodas-gigantes a gerar indagações? Podem ser tudo isso e muito mais dentro de uma perspectiva, por exemplo, em que o encadeamento entre elas cria uma dinâmica questionadora.

Existe uma interdependência dos objetos que aponta para um pensar como todas as rodas de bicicleta, principalmente para quem tem um repertório artístico, deixaram faz muito tempo de transmitir alguma mensagem inocente. Perderam a virgindade visual, contaminadas por referências que levam o artista e o público a perpetrar interpretações.

 

Luzia Velloso – Pedalando – Projeto Bike em execução objeto realizado com partes de bicicletas – 2023

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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