Iberê Camargo (1914 – 1994) dizia que “a obra de arte nasce como um mundo que se organiza: é sempre criadora do mundo”. Para ele, trabalhar materiais era uma forma de objetivar novas realidades. O desafio estaria em construir cores e ritmos produzissem algum tipo de arrebatamento.
A visualidade de Selma Bombachini caminha nessa direção ao utilizar o tricô e a cerâmica. As técnicas dialogam entre si para instaurar um universo que remete a casulos e ninhos. Talvez, porém, o que ali esteja seja muito mais um ato de amor ao próprio processo de elaboração.
Barro e retalhos da indústria de confecção compõem a matéria-prima de uma jornada em que existe a busca permanente de uma conversa plástica que conduz a um fazer que acolhe os materiais. Não existe tensão entre eles, mas sugestões de integração. Durante o trabalho, os materiais ganham forma.
O resultado toca o observador pelo lirismo. As pessoas têm a percepção de uma sucessão organizada de encontros entre o pensado, o feito e o visto. A estética funde a procura da pesquisa com a espera do olhar. Quem observa sentem o calor de peças que retomam as perguntas originárias sobre o sentido do mundo e da vida.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador