As fotografias de Gabriela Machado são um caminhar por veredas de luz e de sombra sem que ocorra a predominância de uma dessas instâncias. Penetrar em suas imagens é trilhar percursos existenciais de uma igreja barroca, na qual nos alimentamos daquilo que é sugerido, pois o conjunto nunca é revelado em sua plenitude.
Trata-se de uma poética de interrogações. Elas passam pelos sentidos sugeridos pelos contextos não declarados – e favorecem o estabelecimento de uma atmosfera em que as questões se multiplicam, seja na representação de corpos humanos ou de elementos da natureza.
Há uma poética de incompletudes que demanda do observador uma leitura atenta no sentido de mergulhar nos mistérios propostos sem a ansiedade de encontrar respostas. Cada imagem propõe indagações que se multiplicam pela maneira de trabalhar os cheios e os vazios e de focar nos detalhes.
O conjunto faz pensar na capacidade da fotografia de fugir de rígidos padrões estabelecidos em direção a um mergulho em maleáveis parâmetros líricos que entendem a realização de uma imagem como a construção de um labirinto em que não há monstros ou saídas, mas sim prazer para quem o idealizou e para quem o percorre.