Villa Epecuén – Dimitri Lee – fotografia
A imagem transita entre o registro e o simbolismo. Tem como ponto de partida a Villa Epecuén, localidade argentina que era uma cidade resort, mas que em 6 de novembro de 1985, após uma série de invernos úmidos e uma tempestade muito forte, foi inundada pelo lago vizinho.
A água ultrapassou uma barreira de contenção e deixou ruas e casas durante dias abaixo de quase 10 m de água salgada corrosiva. A população conseguiu fugir e o local, com o recuo das águas, tornou-se uma cidade fantasma, passando novamente a atrair turistas, mas agora não como local de descanso, mas por sua história peculiar.
Esse contexto narrativo vem à tona pela forma como a imagem é trabalhada pelo artista visual. Há uma atmosfera de mistério e silêncio que as tonalidades cinzentas cristalizam. Os planos sugeridos conduzem a um universo de reflexões que faz pensar como a passagem do tempo dialoga com as paisagens interiores de cada um.
As alterações realizadas na imagem original fotografada acentuam a incompletude do espaço apresentado. Existem apagamentos de camadas de memória trazidos pelas mudanças, assim como a criação de novas potencialidades de ampliação da visão do observador.
Os caminhos da cidade são revistos pela imagem, que trata de tempo e da arquitetura sob uma perspectiva renovada. As interferências funcionam como rasuras que permitem vislumbrar uma outra cidade: não mais a que existiu nem que a foi destruída, mas uma terceira, que a fotografia de Dimitri Lee faz nascer.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador