Bebês Reborn: o filho ideal da sociedade emocionalmente falida

Por Fredi Jon

Parabéns, humanidade. Conseguimos. Depois de séculos tentando compreender o amor, a dor, a criação e os laços que nos tornam humanos… criamos o filho perfeito: não respira, não responde, não exige nada — mas preenche aquele espacinho afetivo que você não conseguiu preencher com pessoas de verdade.

Seja bem-vindo ao admirável mundo novo dos bebês reborn, onde a maternidade é entregue em caixa de papelão com certificado de nascimento e cheiro artificial de recém-nascido. Um milagre da indústria emocional, embalado em celofane e vendido como “cura para traumas”. Mas sejamos honestos: é placebo para solidão.

Não é um brinquedo. É um troféu emocional. Uma escultura do afeto que você gostaria de ter recebido — ou de dar, mas não sabe como. É um filho que nunca vai te chamar de hipócrita na adolescência. Uma criança que nunca vai perguntar por que você não olha nos olhos quando fala de amor.

Esses bebês não são apenas bonecos — são confissões plásticas de uma sociedade que desaprendeu a amar, mas ainda sente falta do afeto. Um símbolo de um mundo em que nos tornamos tão inseguros, tão incapazes de lidar com a vulnerabilidade do outro, que preferimos amar o que não vive.

Você não está comprando um bebê. Está comprando o direito de simular o vínculo, sem precisar enfrentar a realidade. Sem grito. Sem dor. Sem reciprocidade. Porque amar de verdade é arriscado. E você sofreu demais no relacionamento com seus pais, ex-namorados, amigos de WhatsApp que sumiram. Agora, você merece um amor que vem com nota fiscal e garantia.

E um mercado inteiro pronto para isso. Carrinhos, chupetas, roupas por estação. Tem até fotógrafos especializados em ensaios newborn… para o não-born. E o melhor: zero fralda suja. Você pode brincar de ser mãe sem abdicar do spa, do Tinder, ou da paz. A maternidade sem sacrifício. A paternidade sem presença. O amor sem pele.

Os bebês reborn são a versão afetuosa do isolamento. Um afago no ego e uma punhalada no real.

E enquanto isso, as crianças reais, de carne e osso, crescem nos abismos da negligência. Nos abrigos, nas escolas sucateadas, nos lares onde não tempo para brincar ou ouvir. Porque a sociedade está ocupada demais embalando bonecos com cílios postiços e peso calibrado. As crianças reais choram. Os reborn, não.

Conveniente, né?

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