Conforme informado em junho último pelos principais veículos de comunicação internacionais e nacionais, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) divulgou um relatório confirmando que o mundo tem mais de 110 milhões de pessoas deslocadas e refugiadas, um recorde histórico. O número equivale a cerca de metade da população brasileira.
Segundo o documento Tendências Globais do Deslocamento Forçado, os conflitos na Ucrânia, no Afeganistão e na Síria, além da recente guerra civil no Sudão, levaram a um grande aumento no número de deslocados e refugiados. Esses dois grupos foram forçados a deixar seus lares. São considerados deslocados aqueles que continuam em seus países, enquanto os refugiados atravessam as fronteiras para buscar ajuda em outras nações.
No caso da Ucrânia, por exemplo, estima-se que mais de oito milhões de pessoas tenham deixado o país em busca de refúgio, enquanto outros seis milhões foram deslocados internamente.
A ACNUR lembra ainda que não são apenas as guerras que forçam as pessoas a se deslocar. Fatores como discriminação, violência política, pobreza e as mudanças climáticas também pode forçar esses deslocamentos.
Segundo o relatório, nas duas décadas anteriores ao conflito na Síria, que começou em 2011, o nível global ficou praticamente estável em cerca de 40 milhões de refugiados e deslocados internos. Mas o número cresceu dramaticamente desde então. Apenas de 2021 para 2022, houve um aumento de mais de 19 milhões de pessoas nessas situações.
O drama dos refugiados constitui um desafio humanitário. Esta instalação evoca os barcos repletos de pessoas que saem de um lugar conhecido para um idealizado geralmente desconhecido. Chegando ao destino, a vida pode ser transformada em areia que escorre pelos dedos.
Não há muitas vezes em que se segurar, seja no aspecto material, como um prato de comida, ou existencial, como o próprio sentido da vida perante uma jornada de dificuldades.
Na obra de Renata Amaral, os personagens são esculturas cerâmicas de vários tamanhos colocados em alturas crescentes, como se houvesse a possibilidade de eles se erguerem na nova situação à medida que descobrem uma nova realidade. O fato de cada refugiado ser diferente reforça o conceito de que eles não são números.
Cada um tem a sua individualidade e, pelo caminhar em novos territórios, constroem a sua própria coreografia de novas possibilidades de existir perante situações e vozes que representam impossibilidades vivenciais.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.