Arquétipo alfabeto da mata

Osvaldo Gaia – painel multiforme com 26 peças de madeira com pêndulos e casulos, feitos de manta semitransparente, acompanhada de chumbadas, muito comuns nas redes e linhas de pesca dos caboclos – tamanho: 0,70 x 5 x 0,05 m

A imagem de Osvaldo Gaia capta atenção mesmo sem sabermos o que ali está escrito Percebe-se a composição de alguma espécie de texto ou de código, mas, não conseguimos captar o que seja, embora a mente humana, como mostra a neurolinguística, logo busque um sentido para a ordenação e o ritmo sugeridos, inclusive pelo uso dos mesmos materiais: a madeira, que evoca a floresta, e a chumbada, relacionada com a pesca, dois elementos dos quais os povos originários e a população residente em muitas regiões do Brasil retira o seu sustento cotidiano. O alfabeto sugerido funciona como um abecedário com uma forma de escrita com signos e significados a ser decifrada. Será que cada um deles representa um som específico? Nunca saberemos. Talvez eles apenas funcionem em uma região coberta de plantas silvestres de portes diversos. É na mata, que os arquétipos que o artista menciona no título da obra podem decifrar o alfabeto indagador criado para questionar a psicologia, a cultura e as relações dos seres humanos que vivem nas regiões mais isoladas do Brasil consigo mesmos, com seus pares, com a natureza e mesmo com o universo. Que códigos orais e/ou escritos s]ao utilizados nessas relações em suas mais variadas dimensões? Talvez ainda não possamos alcançar o que sugerem… E precisamos? Ou basta saber que existem para que tenhamos a humildade de respeitar a sua capacidade de nos interrogar permanentemente se as nossas maneiras de falar e de pensar são, de fato, eficientes, para viver no mundo que nos rodeia…?

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura,
Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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